Prontidão Operacional: Boas Práticas De Startup De Plantas De Processo Para Evitar Acidentes De Segurança De Processos

A etapa de startup (procedimento de partida) de uma planta de processo envolve diversos riscos, muitas vezes diferentes daqueles conhecidos das condições operacionais, e está sujeita a desvios que podem se tornar causas iniciadoras de eventos de segurança de processos.

Estes desvios estão relacionados principalmente a: posição incorreta de válvulas manuais (abertas ou fechadas); drenos, flanges, bocas de visita e outras conexões deixadas abertas ou mal conectadas; raquetes não removidas; intertravamentos em by-pass, entre outros.

O startup de uma nova planta ou de uma planta que sofreu modificações significativas sem dúvida pode ser complexo. Porém, mesmo uma planta de processo que já está em operação a muito tempo e que não sofreu nenhuma alteração significativa, está sujeita a riscos durante o procedimento de partida, após uma parada comercial ou de manutenção.

Estes riscos estão relacionados principalmente à baixa frequência com que a atividade de partida é realizada, falta ou deficiência de procedimentos operacionais, falta de experiência do time operacional, alta carga de stress (pressão por produzir) e falhas de comunicação.

Os riscos das atividades de partida podem ser evidenciados pelo histórico de grandes acidentes ocorridos na indústria, como por exemplo, a explosão na refinaria de Texas City em 2005.

Porém, estes riscos também podem ser evidenciados pelo número de eventos menores (tier 3 e tier 4) ocorridos durante procedimentos de partida e que poderiam ter evoluído para acidentes significativos (tier 1 e tier 2) caso as condições fossem ligeiramente diferentes.

Os registros de eventos de segurança de processos na Cargill mostram que cerca de 16% dos eventos tier 3 e tier 4 reportados em processos altamente perigosos ocorreram durante partidas de processo.

Em Novembro de 2021, durante o startup da planta de Biodiesel da Cargill de Três Lagoas-MS após uma parada de manutenção, ocorreram vários exemplos de desvios que geraram eventos de segurança de processo tier 3, mas que poderiam ter se tornado eventos mais graves. Alguns destes eventos foram:

• Entrada de ar na coluna de termo desacidificação de óleo vegetal, devido a falha no fechamento de uma boca de visita. No pior caso, este evento poderia ter gerado um incêndio no interior do equipamento devido à alta temperatura.
• Vazamento de água na caldeira de alta pressão da refinaria de óleo, devido a falha na montagem das válvulas de segurança.
• Operação do reator de transesterificação sem dosagem de catalisador, devido a uma válvula manual erroneamente deixada aberta. A falta de dosagem de catalisador poderia ter causado sobre pressão no sistema devido ao excesso de metanol não reagido.
• Forte golpe de aríete na linha principal de alimentação de vapor para a planta, devido a falha no procedimento de drenagem de condensado antes da partida.
• Derramamento de grande quantidade de biodiesel na contenção secundária devido a um dreno deixado aberto.

Durante estes eventos, diversas camadas de proteção foram desafiadas e, em condições ligeiramente diferentes, possivelmente poderiam ter ocorrido rupturas de equipamentos, vazamentos de produtos inflamáveis, incêndios e explosões que poderiam ter gerado fatalidades, danos ambientais graves e interrupção do negócio.

Além disto, as análises de riscos de processo listam diversas causas iniciadoras de eventos graves que apenas ocorrem (ou têm uma maior probabilidade de ocorrer) durante os procedimentos de partida. Uma análise de risco típica de uma planta de Extração ou Biodiesel da Cargill aponta que cerca de 30% das causas iniciadoras de eventos com consequências “Catastróficas” (acima de 3 fatalidades) ou “Muito Sérias” (menos de 3 fatalidades) podem ocorrer durante atividades de partida de planta.

Diante disto, diversas melhorias foram implementadas na planta de Biodiesel da Cargill de Três Lagoas-MS com o objetivo de minimizar os desvios durante o startup da planta, de modo a evitar ocorrência de eventos de segurança de processos e perdas de produção devido a atrasos na partida. Entre as melhorias implementadas, podemos citar:

• Revisão do procedimento de partida da planta considerando os riscos reais identificados durante o startup de Novembro de 2021.
• Criação de um check-list de partida com base no procedimento de modo a garantir que nenhuma etapa/verificação será esquecida.
• Check-list de válvulas manuais críticas e suas respectivas posições corretas (aberta ou fechada), incluindo checagem dupla.
• Instalação de placas de identificação em campo nas válvulas manuais críticas com suas respectivas posições corretas (aberta ou fechada).
• Alinhamento com o time operacional para garantir que haja pelo menos um operador experiente em campo durante toda a partida do processo.

Outras melhorias ainda precisam ser implementadas, incluindo:

• Autorização formal da liderança para partida da planta com assinatura do check-list de pré-partida.
• Digitalização de check-list’s.
• Definição de quais operadores em cada turno estão autorizados a partir a planta, com base em experiência comprovada.
• Garantia da presença do time de supervisão/engenharia durante a partida.
• Melhorias de automação para redução das intervenções humanas.

A implementação destas ações simples foi extremamente importante para redução do número de eventos durante partidas de planta de biodiesel, principalmente a partir de Janeiro de 2022, uma vez que, por motivos comerciais, a frequência de partidas e paradas de planta aumentou consideravelmente (hoje temos de 1 a 2 startups por mês). Assim, o objetivo deste trabalho é compartilhar boas práticas de procedimentos de startup que com certeza são aplicáveis e valiosas para todas os tipos de processo.